domingo, 22 de maio de 2016

Sexo por compaixão

O título já desperta curiosidade. Assisti esse filme há bastante tempo, mas lembro de sua força, da forma como expressa o poder do feminino, que pode mudar qualquer coisa.

Uma pequena cidade espanhola, pobre e esquecida. Um mulher caridosa, Dolores, que supera as próprias dificuldades para ajudar quem precisa. Seu marido Manolo, no entanto, não aprecia essa qualidade e resolve deixá-la, saindo da cidade.

Dolores questiona si própria, pensando se ajudar os outros seria mais um defeito do que uma qualidade. Tenta confessar-se, mas o padre diz que ela sequer tem pecados. Dolores resolve, então, mudar isso! 

Um dia, Dolores muda a vida de um homem, fazendo sexo com ele. Dolores transforma-se em Lolita e passar a fazer sexo por caridade com diversos homens da cidade. Num primeiro momento, as mulheres ficam enciumadas e indignadas. Os homens ficam intrigados. Mas, conforme o tempo passa, as mulheres percebem que seus maridos estão mais atenciosos, a cidade, velha e sem graça que, aliás, é filmada em preto e branco no início, começa a ser melhor cuidada e ganha cor, literalmente. Todos cultivam flores, pintam as casas.

Lolita era puta ou santa? Essa é a pergunta que paira no ar. De qualquer forma, todos estavam mais felizes e as mulheres aceitam a "ajuda" de Lolita.

Um dia, porém, o marido de Dolores retorna e, ao descobrir o que sua mulher estava fazendo, fica revoltado. Lolita volta a ser Dolores e a cidade volta ao marasmo sem cores. Indignadas, as mulheres da cidade se unem para mostrar a Manolo como é difícil o que Dolores fazia. O final é surpreendente: Manolo também acaba fazendo sexo por compaixão, e as mulheres da cidade também se beneficiam de seus serviços.

Esse filme me chama a atenção por várias razões. A primeira é que relativiza tudo. A caridade pode ser boa ou ruim, o sexo sem qualquer compromisso, praticado por uma mulher com vários homens, ideia a princípio execrada pela sociedade, torna-se muito libertador, até mesmo a "traição" dos homens torna-se positiva. O sexo é retratado como um poder quase sagrado, movimentador de forças psicológicas e emocionais que levantam a cidade e seus habitantes. 

O fato de um poder feminino fazer isso também é incrível, a mulher com essa força feminina arrebatadora, capaz de prover a vida - não no sentido da maternidade - mas de alimentar com abundância de felicidade ao fazer o uso do seu instrumento sagrado, seu corpo. 

Além disso, o fato de Dolores não corresponder à qualquer estereótipo de beleza imposto pela mídia demonstra que todas as mulheres têm sua beleza, seu valor e seu poder. Podemos, com a nossa força, colorir o mundo!

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