sábado, 21 de maio de 2016

Augustine

Eu sou apaixonada pela história da psiquiatria, principalmente em seu início, no século XIX. Naquela época, um fenômeno interessante era a presença da chamada Histeria que, com seus diversos sintomas, era responsável por um bom número de internações. Detalhe: a histeria se manifestava predominantemente em mulheres (existiram casos em homens, mas eram exceções). Trata-se de uma doença antiga que chegou a ser conhecida como "doença do útero", porque acreditavam que seus sintomas surgiam quando o útero - uma espécie de organismo vivo - se movimentava dentro da paciente. 
Alguns dos nomes mais conhecidos no tratamento da Histeria eram Charcot, Breuer, Freud e Pierre Janet. 

O filme Augustine conta a história de um dos casos reais de Histeria tratados por Charcot no Hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris, na época, um hospital especializado com muitos casos de histeria feminina. 

Augustine era uma empregada doméstica numa casa francesa de bom poder aquisitivo e tem uma crise durante um jantar, na frente de todos os convidados. Ela é levada ao Hospital Salpêtrière e seu caso se torna célebre. O que eu gostaria de chamar a atenção para esse filme é a realidade por trás dele e como essas mulheres eram internadas e tratadas de forma um tanto quanto aleatória e às vezes até cruel, já que a psiquiatria estava em seus primeiros passos, e os tratamentos ainda se baseavam em tentativa e erro. 

O principal tratamento estava relacionado à hipnose, mas é visível que os médicos, naquele momento, estavam meio perdidos, elaborando teorias sem muita base.
O caso de Augustine é apenas uma amostra do que muitas mulheres passaram, aliás, na Idade Média, a Histeria foi tratada, muitas vezes, como possessão demoníaca e, consequentemente, aquelas mulheres foram punidas pela Inquisição.  

Agora, quero relacionar esse filme com outro, cujo título é Histeria, bem mais leve do que Augustine e trata da história real da invenção do vibrador. É isso mesmo que você está pensando: a histeria era tratada com orgasmos. Neste filme, porém, a histeria tem aquela "cara" mais parecida com o que o senso comum pensa, mulheres histéricas, insatisfeitas com a sua vida, e nada parecido com os sintomas de paralisia, por exemplo, presentes em Augustine. Apesar da ideia aparentemente machista, o filme retrata o empoderamento feminino através da personagem vivida por Maggie Gyllenhaal, uma mulher independente e corajosa, bem à frente de seu tempo. 

Detalhe interessante: ambos os filmes são dirigidos por mulheres. 

De qualquer forma, a classe médica, inicialmente masculina, trabalhou muito bem a sua suposta superioridade ao longo dos séculos. Os casos de Histeria apenas demonstram o preconceito a que as mulheres eram submetidas. Muito se falava, com relação à essa doença, que estava relacionada à sexualidade, ou seja, mais uma vez, a conduta feminina é colocada em dúvida. Atualmente, não se fala mais em Histeria, seus sintomas foram absorvidos por outras doenças, de caráter emocional ou orgânico, e perdeu o caráter exclusivamente feminino. 

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